“Eu sou Luiz Antonio Sampaio de Oliveira, nascido em 1º de fevereiro de 1915, no interior do Rio Grande do Sul, chamado Maria Santa”.Assim se apresentou o meu avô, em 2005, em uma entrevista ao Bom Dia Brasil. Esse sonho, o de aparecer na televisão em rede nacional, ele alcançou. O outro, de festejar o centenário de vida, infelizmente não.
Quando eu olho pra trás, e tento lembrar do meu avô, vejo-o nitidamente em cima de um cavalo, abrindo o desfile da semana farroupilha, carregado a bandeira do Rio Grande do Sul. Lembro também, nas incontáveis despedidas de domingo, quando ele sempre perguntava: "Já arrumou? Escolhe bem, não pode ser qualquer um...". Lembro da minha festa de 15 anos, que mesmo que ele já tivesse alguma dificuldade de locomoção, dançou a valsa comigo, e foi aplaudido de pé. (vale ressaltar que eu não sabia dançar, mas que ele sempre foi um pé de valsa).
Sempre tive o maior orgulho de dizer a idade dele, 96 anos. Afinal, são poucas, pra não dizer raras, as pessoas que chegam nessa idade. Todo domingo era sagrado, íamos ver o vô que tinha vindo da estância, contra a vontade própria, para passar o final de semana na cidade. Mas de um ano pra cá, mais ou menos, ele não voltou mais para a estância que ele tanto amava. Apesar de ter um tipo "de temperamento que não admite parar muito", ele parou. O alzheimer veio chegando aos poucos, e uma pequena esquemia fez com que fosse necessária a fisioterapia nas pernas.
No último final de semana, em decorrência de pedras na vesícula, ele foi internado para uma cirurgia. Em resumo, em menos de 12 horas o senhor com 96 anos passou por duas cirurgias, e consequentemente, duas anestesias gerais. Passou bem, para a alegria da família e dos médicos, que ficaram admirados da força daquele coração. Mas as coisas mudaram. E ele partiu dois depois.
Pra mim ele foi um grande homem, apesar da baixa estatura. E um comentário, que ouvi no sepultamento, só vem a completar o que eu disse. "Cada pedaço dessa cidade, tem um pedaço do S. Luiz".