quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
Somos todos culpados
"Alguém tem que ser o culpado", diria minha mãe. E começa o jogo de especulações, empurra para lá e para cá. Culpa-se quem está mais próximo, àqueles que aparecem em ênfase num primeiro momento. Peguemos como exemplo o incêndio na boate de Santa Maria. As pessoas julgam e condenam o músico que usou o tal sinalizador, os seguranças, os donos da boate. Cada um deles pelos motivos que todos nós já conhecemos. Depois começa-se a falar nos bombeiros, nos fiscais, na prefeitura, no poder público. Culpa-se o responsável disso ou daquilo. Você já parou para pensar que também é culpado? Sim, se essa bola de neve de culpados não pára, chegamos a nós, cidadãos. Você se considera um cidadão? Se sim, também é culpado. É culpado porque elege os governantes que dão toda a sequência aos milhares de profissionais que de uma forma ou de outra erraram ou foram negligentes, é culpado porque não cobra nada do tal poder público, não corre atrás dos direitos e, consequentemente não cumpre seus deveres. É culpado porque também negligencia, fecha os olhos e prefere não ver. É culpado porque aplaude coisas ilegais. Não? Então quer dizer que você pagou pelas músicas que tocam no seu mp3, que nunca recebeu troco a mais e ficou quieto? Talvez você me diga que uma coisa não tem nada a ver com a outra, mas tem. Eu já usei a expressão "não dá nada". Não faço cobranças ao poder público, não fiscalizo nossos representantes, não lembro em quais deputados eu votei na última eleição. Já julguei as pessoas por elas errarem, por não serem honestas, por não fazerem o seu trabalho. Mas eu não fui 100% honesta sempre. As proporções, claro, são diferentes. Mas lá no fim do fio da meada eu sei que eu e você temos culpa. E eu me sinto um pouco culpada por querer justiça depois e não antes.
domingo, 20 de janeiro de 2013
Queridas amigas (?),
Antes de mais nada, que falta eu sinto de vocês. Das nossas tardes jogando conversa fora.
Resolvi escrever pra vocês depois de ver um comentário em uma foto nossa. Algo como "bons tempos que não voltam mais". Sabe, até pouco tempo eu pensava assim. Lembrava daquele tempo como algo que não pode voltar mais. Mas hoje, especialmente hoje, eu comecei a pensar diferente.
Antes, eu lembrava da nossa amizade com muito carinho, por um lado, mas com um pouco de tristeza por outro. Pensava: como algo que era tão bacana pode "acabar" de uma hora para outra?
Depois repensei. Comecei a lembrar da nossa amizade apenas com carinho. E passei a pensar: as pessoas mudam, a vida muda e por consequência a amizade muda também. Nós quatro passamos por experiências diferentes nesses últimos anos e, não sei se vocês lembram ou se sentiram assim, mas a última vez que nos reunimos não foi a mesma coisa de antes. Não tinha o mesmo entrosamento.
O momento não tá fácil. E aí, entre tantas reflexões, eu vejo que o culpado desse nosso afastamento não é o tempo, ou a vida. Somos nós mesmas. Se quisessemos, de verdade, poderíamos continuar nos encontrando quase como antes. É fácil reclamar que alguém sumiu ou que não se tem mais amigos como antes e não fazer nada para mudar.
Claro que com cada uma de vocês é diferente. Claro que não vai ser igual, afinal tudo muda. Mas quem disse que não pode ser melhor?
Mas afinal, por que não procuramos umas as outras? Arrisco responder. Nós mudamos. Nesses quatro anos escolhemos nossos próprios caminhos, conhecemos pessoas diferentes, fizemos novos amigos e começamos a ver o mundo de outras perspectivas. O meu palpite é que temos medo que não haja mais afinidades, que não haja mais sonhos compartilhados. E, assim, de certa forma, que não sejamos mais aceitas de braços abertos.
Para descobrir isso é preciso arriscar. Arriscar a ver um rosto sério ou uma desculpa qualquer para não nos vermos mais e aí sim perceber que não há mais jeito, que o jeito é continuar lembrando de nós como algo muito bom do passado. Lembrar de vocês e contar para meus filhos como era divertido dividir segredos, sonhos e medos.
Eu topo nos dar uma segunda chance. E vocês?
Com carinho, eu.
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