Manhã de um dia qualquer de outubro de 2001. Eu tinha 10 anos. Ela carregava um envelope na mão e disse que precisava dar uma notícia. Imaginei mil coisas. Curiosidade. Ele nasceria em junho do próximo ano. Alegria e choque ao mesmo tempo. Depois de muito tempo eu já havia desistido de não ser filha única. Minhas esperanças já tinham acabado, já estava conformada. Mas aquela notícia me deixou feliz, muito feliz. E com ciúmes também. O tempo passou, a barriga cresceu, assim como o meu amor por aquela criança. Copa de 2002 acontecendo, e nós no hospital. Esperávamos a chegada dele. Fazia frio, muito frio, até que ele foi acolhido no calor da família.
Acompanhar uma criança crescer é indescritível. Acolher nos braços, alimentar. Ver o primeiro sorriso, a primeira vez que fica sentado. Presenciar a primeira palavra, que você mesmo incentivou a sair daquela pequena boca. Os primeiros passos. As brincadeiras e risadas. Ajudar a escrever o próprio nome, e depois de pouco tempo auxiliar na construção de histórias.
Quase onze anos separam eu e meu irmão, mas e daí? Inúmeras vezes as pessoas falavam comigo como se ele fosse meu filho. De certa forma elas não estavam erradas. Nós brigamos, discutimos, ele diz que não gosta de mim, que não me ama. Eu brigo com ele, coloco de castigo. Mas depois tudo passa e voltamos a rolar no chão contando histórias, sonhando. Ele é meu orgulho. Confesso que fico irritada, pra não dizer com ciúmes, quando a mãe ou o pai começam a contar as façanhas dele por aí. Quando contam o quão bom ele é em matemática, apenas com 8 anos. Na verdade essa facilidade com os números já existe há uns três anos. Apesar do ciúme, quando eu conto as histórias dele, me encho de orgulho. E apesar da nossa grande diferença de idade, nós conversamos e palpitamos. Ele diz por exemplo, que tal roupa está bem ou não em mim. Que o esmalte vermelho combina mais comigo. Me conta o que fez na escola, o que assistiu no desenho e também o nível em que está nos joguinhos do video game. Temos uma relação de cumplicidade, de amor, de irmandade. E meus pais que me perdoem, mas se existe alguém por quem eu daria a vida, com certeza seria por ele.