quinta-feira, 16 de maio de 2013
Um perna de pau
Nunca vi ele jogando futebol. Mas já vi ele construindo suas pernas de pau e depois usando-as, nos seus bem vividos 75 anos. Não o conheci jovem, e sim correndo até o portão para me pegar no colo. Deixei de chupar bico em troca de uma boneca que ele me deu. Aprendi a jogar cartas, aprendi a me divertir, aprendi a tolerar. Tudo com ele. Vi ele no hospital, mais de uma vez e, depois, usando as pernas de pau. Vi ele carregando sua bolsa de viagem na rodoviária, embarcar no ônibus e ir para o sítio. Vi ele abatido, desanimado. Vi ele perder sangue, o estômago - todo o estômago. Vi ele perder muito peso. Agora eu vejo ele sentindo fome, e isso é tão bom. Vejo ele levantando de madrugada para comer. Vejo ele voltando a pegar a bolsa de viagem, embarcando no ônibus e retomando a vida. Aos 80 anos, depois de perder mais de 20 quilos, vejo ele voltando a viver.
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