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segunda-feira, 10 de junho de 2013

Morte

Ninguém quer ver a morte de perto. Mas ela sempre chega, às vezes sem avisar, outras fazendo muito barulho. Naquela tarde, deitado em uma cama de hospital, ele não queria mais viver. Lutava para tirar o tubo de oxigênio que o mantinha vivo. Estava consciente. Mais consciente, talvez, que os três filhos e os dois netos que estavam no quarto. Seguravam suas mãos, para impedi-lo de retirar o respirador. Se morrer é difícil, ver alguém partir e não poder fazer nada, é mais ainda. Ele, com seus mais de 90 anos bem vividos, dizia, embora não muito claramente, "me deixem morrer". Todos fingiam não entender. Muitos fingem até hoje. Enfermeiros e médico vieram, para levá-lo de volta a UTI. Estava muito agitado e com dificuldade para respirar, apesar do aparelho. O coração já dava sinais de que estava indo. A correria foi em vão, as tentativas de reanimar o coração também. Ele se foi, e a notícia foi dada assim, num corredor frio de hospital. A última frase que eles lembram de ouvir dele foi me deixem morrer.

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