domingo, 30 de junho de 2013
Velhice
Quando a pele ainda era rígida e lisa e os cabelos brancos ainda não tinham dado as caras, eles se conheceram e namoraram. Mas Helena se apaixonou por outro, Antônio, e Waldir ficou tristonho por ver sua amada casar. Ela, por sua vez, apresentou uma prima para ele, com quem Waldir se casou. Foram casados e felizes por muito tempo. Mas o tempo, esse traiçoeiro, sempre passa. Quando finalmente os cabelos brancos chegaram, a pele não era a mesma, e as dificuldades de locomoção e os problemas auditivos chegaram, ambos ficaram viúvos. E foi na velhice que eles se reencontram, apesar de nunca terem se separado em função dos vínculos familiares. Há um ano, eles completaram seus respectivos 80º aniversário juntos, mais uma vez como um casal. Engana-se quem acredita que a velhice e tudo o que vem junto com ela os atrapalha. O aparelho auditivo de Waldir o auxilia a ouvir quando Helena o chama, frequentemente pelo nome do falecido marido, Antônio. "Ele não se importa, eram muito amigos", justifica ela em meio à gargalhadas. Casaram de novo, depois de bem velhos, pois "quem mora junto e não casa não vai para o céu", acredita Helena. O fato é que em meio a não-aceitação familiar, a troca de nomes, surdez e velhice, eles proporcionam um ao outro qualidade de vida. Eles são, um para o outro, tudo aquilo que se espera enquanto a morte não chega.
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